“E este meu esconderijo está longe de ser abandonado. Não importa o quão grande seja tua força, não é o suficiente para me tirar daqui. Me fiz de frasco frágil, daqueles que não se toca, pois senão irá se quebrar em mil pedaços. Aqui está minha paz e minha loucura, embrulhadas em um só. Soluciono os porquês do mundo e o porquê de mim, mas nunca chego onde quero chegar. Você quer me salvar, mas meu outro lado não quer ser salva. Meu coração adormecido está e não existe barulho suficiente para despertá-lo. Estou querendo dizer que não importa. Não importa quem venha. Não importa quantas palavras me digam. Não importa a afeição. Eu tento alcançar suas mãos mas é em vão. A distância chega e em um certo momento não lhe enxergo. Quero dizer que ando pelas ruas mas não olho ao redor. Muito menos à frente. Meus olhos enxergam o nada que eu própria criei. Nunca paro de caminhar pelo nada. E o nada pra mim também é tudo. Embrulhados também, em um só. Pessoas me abraçam, mas não as sinto. Meu amor eu tento espalhar, mas será que o tenho? Meus pensamentos se tornam confusos a cada frase que cito. Me arrasto a cada letra. E minha dor aumenta a cada fracasso. Meu íntimo, já tão escuro, não dá as minhas boas partes visão para trilhar seus caminhos. Precisa-se de iluminação. Mas um ser tão morto como eu, não sei onde encontrar. Você oferece sua mão, mas eu não a quero. Você oferece seu coração em minhas mãos, mas sinto medo de escurecê-lo, cegá-lo dos bens e deixá-lo na podridão em que eu mesma vivo. Não o dê para mim, deixe-o com você. Não mereço. Não dou conta. Sou caso perdido, sou o anjo que se desviou, e que suas próprias asas rasgou. Você me oferece sua força, mas não a quero. Você some de minha vista, e eu aceito. Você olha para trás tentando não voltar e me salvar, e eu aceito. Um dia lhe encontro. Um dia me livro de mim. Um dia a luz me achará. E ela me guiará, querido. Me guiará até você. Você sorri pra mim e eu adormeço, sabendo que mesmo que eu não me encontre, encontro vestígios de mim em você.”
- Ana Carolina